domingo, 17 de septiembre de 2017

PCC 4 Semestre

Ciências Sociais é uma ciência que estuda distintas áreas humanas e os seus principais aspectos sociais e humanos e também a vida social de indivíduos e grupos, em diversas áreas que incluem antropologia, comunicação, administração, geografia, história, ciência política, contabilidade, estatística, economia, direito, psicologia social, filosofia social, sociologia e serviço social.
Diferenciando-se das artes e das humanidades com preocupação mais exata na metodologia. Os métodos, como observação participante que são usados nas diversas áreas do conhecimento, e também nas ciências sociais aplicadas, da terra, agrárias, biomédicas etc. Comum a distinção entre ciências exatas e ciências humanas, envolvendo o estudo, estrutura, mudança da estrutura e dos processos até atingir a prática, processo de ação até atingir o aprendizado e conhecimento desejado.
Aplicações da estatística nas ciências exatas, sociais e biológicas de uma forma geral, mostrando a importância dos conhecimentos estatístico nestas áreas. As aplicações de cada ramo de conhecimento fazendo devidas correlações com outras disciplinas.
Analisando e constatando a necessidade da apropriação de conceitos estatísticos desde o Ensino Fundamental, para possível formação de profissionais nas diversas áreas de conhecimento com a possibilidade e uso habitual e inteligente da estatística nas diferentes áreas e atuação de desenvolvimento do conhecimento através das teorias probabilísticas para explicar a frequência da ocorrência de eventos, ou a previsão de fenômenos futuros, com planejamento, sumarização e interpretação das observações.
A estatística não é um ramo da matemática onde se investigam os processos de obtenção, organização e análise de dados sobre uma determinada população. A estatística também não se limita a um conjunto de elementos numéricos relativos a um fato social, nem a números, tabelas e gráficos usados para o resumo, à organização e apresentação de dados de uma pesquisa, embora este seja um aspecto da estatística que pode ser facilmente percebido no cotidiano. Ela é uma ciência multidisciplinar, que permite a análise estatística de dados de um físico. Poderia também ser usada por um economista, agrônomo, sociólogo, antropólogo, químico, psicólogo, etc.
Segundo Rao (1999), a estatística é uma ciência que estuda e pesquisa sobre: o levantamento de dados com a máxima quantidade de informação possível para um dado custo; o processamento de dados para a quantificação da quantidade de incerteza existente na resposta para um determinado problema; a tomada de decisões sob condições de incerteza, sob o menor risco possível. De fato, a estatística tem sido utilizada na pesquisa científica para a otimização de recursos econômicos, para o aumento da qualidade e produtividade, na otimização em análise de decisões, em questões judiciais, previsões e em muitas outras áreas.
Estatística forma uma ferramenta chave nos negócios e na industrialização como um todo. É utilizada a fim de entender sistemas variáveis, controle de processos, custos financeiros e de qualidade e para sumarização de dados e também tomada de decisão baseadas em dados. Nessas funções ela é uma ferramenta chave, e é a única ferramenta segura.
A estatística deve ser encarada de uma forma mais eminente, posto que a mesma contribui, e muito, na formação crítica do cidadão, pois auxilia na análise de várias pesquisas e dados que lhe são apresentados diariamente, tais como, dados eleitorais, nascimentos, mortalidades, etc. Sendo assim, faz-se necessário procurar entendê-la, cada vez mais, pois, como afirma Lopes (2004, p01), em seu artigo, o perigo está de que, se não consegue distinguir as afirmações falsas das verdadeiras, então você está vulnerável a manipulação por outras pessoas, cujas conclusões podem conduzir você para decidir contra os seus próprios interesses e depois venha a arrepender-se. Jornais, revistas, e outros meios de comunicação apresentam várias matérias que contêm dados estatísticos.
Todavia, tais dados, na maioria, não conseguem ser decifrados, deixando clara a dificuldade por parte da população em entender sua contextualidade, ou seja, compreender o que representam, uma vez que não são trabalhados desde o início da vida escolar. As inúmeras informações que recebemos e/ou temos conhecimentos todos os dias, dos mais variados meios de comunicação mostram uma necessidade de sabermos selecionar, qualificar, analisar e contextualizar tais informações a fim de entendê-las e/ou interpretá-las.
É necessário, como educadores, trabalharmos para minimizar a dificuldade dos alunos no entendimento dos conceitos e métodos estatísticos. É importante temos profissionais para o atendimento dessa clientela, pois cabe ao professor a tarefa de auxiliar os alunos no desenvolvimento de suas competências, inserindo-os na realidade estatística a partir dos assuntos de seu interesse e orientando-os na construção de novos significados a partir daqueles que eles já conhecem, para que sejam capazes de discernir diante de uma dificuldade e perceber qual é a melhor direção a tomar.
Em muitas situações para o entendimento da realidade, só são possíveis através das estatísticas, dessa forma, o conhecimento estatístico, nos auxilia na procura incessante pela verdade absoluta. Todavia é clara e abrangente a importância de algumas mudanças dentro do contexto da estatística, pois somente com essas mudanças poderemos aumentar o poder de criticidade por parte dos cidadãos e alunos quanto aos dados estatísticos.
A estatística na escola irá representar o papel de que o aluno possa compreender e apreciar o papel da estatística na sociedade, incluindo seus diferentes campos de atuação e desenvolvimento como também a compreensão e valorização do método estatístico, isto é, perceber tipos de questões a que o uso da inteligente pode dar uma resposta eficiente as formas básicas do raciocínio estatístico, suas potencialidades e limitações.
Etnocentrismo e relativismo cultural
Para aprofundarmos a discussão sobre o ser humano como ser cultural, devemos debater a respeito de duas posturas: a do etnocentrismo e a do relativismo cultural. A primeira refere-se a uma postura que temos e que deve ser evitada, e a segunda, a uma postura metodológica sugerida quando alguém quer olhar outro povo ou grupo diferente do seu.
“{...} cada qual denomina de bárbaro o costume que não pratica na própria terra”. Michel de Montaigne
Essa frase nos mostra que todos nós olhamos para o mundo com os olhos ou as lentes dados por nossa cultura. Por meio dela, observamos o mundo e avaliamos os outros. Isso se chama etnocentrismo.
Nesse sentido, todos nós somos etnocêntricos. Uns mais e outros menos. O problema do etnocentrismo é que ele não nos permite compreender como os outros pensam, já que, de antemão, eu julgo os outros conforme os meus padrões, de acordo com os valores e ideias partilhados pela minha cultura. E isso é um problema quando se quer compreender o outro, quando se quer pensar sociologicamente.
Logo, o etnocentrismo é uma postura que devemos evitar. Na Antropologia, há um recurso metodológico para isso e ele tem a ver com uma atitude mental que os pesquisadores adotam diante do que é diferente.
O antropólogo deve tornar exótico o que é familiar e tornar familiar o que é exótico.
Ou seja, é preciso assumir uma postura de distanciamento diante de seu modo de pensar, agir e sentir. Essa postura está ligada ao estranhamento. É tentar colocar-se no lugar do outro e compreender como ele pensa. Ter essa atitude não significa deixar de ser quem é, mas aceitar o outro na sua diferença. A essa postura damos o nome de relativismo cultural.
O relativismo cultural é a postura segundo a qual se procura relativizar sua maneira de agir, pensar e sentir, e, assim, colocar-se no lugar do outro. “Relativizar” significa estabelecer uma espécie de distanciamento ou estranhamento diante de seus valores, para conseguir compreender a lógica dos valores do outro.
Se quisermos realmente compreender o outro, devemos ter consciência disso e adotar, na medida do possível, o relativismo como uma postura metodológica que ajude a nos desvencilhar do etnocentrismo. Essa atitude não é fácil, pois são poucas as pessoas dispostas a questionar ou deixar de lado sua maneira de agir, pensar e sentir, ainda que momentaneamente, para tentar compreender o outro.
Uma das razões mais importantes para termos uma postura etnocêntrica está ligada ao medo.
Medo do outro e, acima de tudo, medo de nós mesmos.
Por que isso está ligado ao medo?
Porque, quando dizemos que o outro é inferior, automaticamente nos colocamos em uma posição de superioridade. E, se somos superiores, somos os corretos, os melhores. Logo, não precisamos questionar nossa maneira de agir, pensar ou sentir. Pois, quando olhamos o outro e procuramos, genuinamente, compreendê-lo na sua diferença, muitas vezes não olhamos somente para esse outro. Olhamos também para nós mesmos.
E por que não queremos fazer isso?
Porque aceitar o outo na sua diferença leva, muitas vezes, a refletir sobre a própria existência, e nem sempre estamos preparados ou simplesmente não queremos rever ou repensar nosso ponto de vista. Gostamos de achar que esse ponto de vista é o único possível, pois assim esquecemos que é somente uma possibilidade, uma entre outras. Com isso, fugimos da responsabilidade  de pensar sobre as escolhas que fazemos, dizemos que: “não temos escolha”, que “ o mundo deve ser assim “, “ sempre foi assim ‘, que “ não há o que mudar ‘ e que o “ diferente está sempre errado “, “ é sempre inferior “.
O determinismo geográfico pode ser definido como a postura segundo a qual se acredita que as diferenças de ambiente físico condicionam totalmente a diversidade cultural. Ou seja, segundo essa postura, os seres humanos são diferentes, pois habitam áreas geográficas diferentes: umas mais frias, outras mais quentes, umas mais próximas ao mar, outras mais altas, etc. Para os adeptos do determinismo geográfico, o meio físico condiciona totalmente o comportamento do ser humano. Assim, acreditam, por exemplo, que pessoas que moram em regiões quentes são mais preguiçosas, por conta do calor, entre outros preconceitos.
A Antropologia mostrou que existem limites para a influência do ambiente físico em uma determinada cultura. Ou seja, o meio físico pode influenciar os sers humanos e seus costumes, mas não o condiciona totalmente.
Os hábitos, costumes e conteúdos simbólicos da vida de um povo podem sofrer influência do meio físico. Existem elementos em nossa cultura que são influenciados pelo meio, como a maior parte das nossas roupas. Elas são adaptadas ao nosso clima. Ou, ainda, o fato de nos alimentarmos de mandioca, que é uma raiz que constitui a base da alimentação em muitas regiões do Brasil. Em países de clima mais frio, é comum que as casas tenham sistema de aquecimento central, para que as pessoas não sofram com as baixas temperaturas, e se alimentem de vegetais que se desenvolvem em temperatura mais baixa do que aquela aqui encontrada.
Toda cultura age seletivamente em relação ao meio físico em que ela se desenvolve e, por isso, existem elementos culturais que, apesar de aceitos, não estão de acordo com o meio geográfico. Um exemplo notório é o uso do terno e da gravata em um país quente como é o Brasil na maioria dos meses do ano. Essa roupa é adequada aos países de clima temperado, mas totalmente inadequada, na maior parte do ano, ao clima do nosso país.
Mesmo assim, os homens, seja por razões de trabalho, seja porque têm de comparecer a um determinado evento social, muitas vezes usam terno e gravata. Por que eles fazem isso?  Porque essa roupa tem um significado cultural. Trata-se do exemplo de uma vestimenta mais formal, que proporciona certo status social, pois não é uma roupa barata.
Se o meio físico influenciasse totalmente as culturas como querem acreditar os adeptos do determinismo geográfico, os homens usariam roupas adequadas ao nosso clima.
Essa reflexão pode ser feita em relação aos hábitos de alimentação.
Existem animais que habitam no Brasil e outros países, como a China, o Camboja, a Tailândia, o Vietnã e o México, por exemplo. Mas isso não não significa que eles sejas considerados passíveis de servir como alimento aqui e lá.  E o caso do rato. No Brasil, é praticamente impensável para uma pessoa se alimentar da carne de ratos. Já na China no Camboja, no Vietnã e na Tailândia , esses animais são normalmente consumidos como alimentos. Na Tailândia também é comum comer espetos de certas larvas na rua, assim como aqui se come churrasco. Há ainda o caso do México: lá é possível comer tacos (prato típico mexicano feito de farinha de milho, parecido com uma panqueca, com vários tipos de recheios e molhos) recheados com certo tipo de grilo comestível. Se o determinismo geográfico realmente existisse, nós nos alimentaríamos igualmente desses animais, que também habitam nosso território.
Outra linha de pensamento que procura explicar o que diferencia um ser humano do outro é a do determinismo biológico, segundo a qual as diferenças genéticas determinam as diferenças culturais.
Essa é avelha história de que “o homem é o que é, pois isso estaria no sangue”, ou seja, todas as diferenças entre duas pessoas seriam estabelecidas por meio dos nossos genes. A partir desse tipo de raciocínio cria-se uma série de estereótipos, tais como: os judeus e os árabes nascem para negociar; os alemães são bons de cálculos; os norte-americanos são todos empreendedores etc. E a justificativa é a de que isso estaria no sangue.
Mas isso é um grande engano, por várias razões.
A primeira razão é dada pelos avanços dos estudos genéticos que mostraram que os seres humanos são muito parecidos e muito diferentes entre si do ponto de vista genético. Em termos da porcentagem total de material genético, a variação genética entre dois seres humanos é inferior a 1%. Entretanto, se verificarmos em números, será possível observar que há milhões de diferenças no código genético entre dois indivíduos escolhidos ao acaso. Ou seja, apesar de sermos muito parecidos em termos relativos (uma diferença menor do que 1%), em termos absolutos, isto é, considerado o número de diferenças genéticas, somos muito diferentes (milhões de diferenças entre dois indivíduos). Em outras palavras milhões dessas diferenças genéticas representam menos de 1% do total do código genético, não importando a origem geográfica ou étnica deles. No entanto, mais de 90% dessa variação ocorre entre indivíduos e menos de 10% ocorre entre grupos étnicos(“raças”) diferentes, mais um argumento para o fato de que há apenas uma raça de Homo sapiens: a raça humana!
Com base em tais informações, é possível dizer que cada um de nós é um ser humano único e tão diferente de outro ser humano que procurar juntar as pessoas para formar grupos distintos (por exemplo, “raças Humanas”) não faz sentido.
Não existem diferenças suficientes entre os grupos humanos para permitir separar ou juntar os seres humanos em “raças”. As diferenças visualizadas entre populações de continentes distintos são muito pequenas e superficiais, não se refletindo no genoma (constituição genética total de uma pessoa).
Mas, mesmo assim, há aquelas velhas questões: se isso é verdade, por que tantos portugueses são padeiros? Por que tantos descendentes de árabes são comerciantes? Isso não está mesmo no sangue?
Se isso fosse verdade, então Portugal seria um país de padeiros e em todos os lugares onde os portugueses fossem morar eles seriam padeiros. E isso não acontece.
Se aqui há muitos descendentes de portugueses que são padeiros, isso se deve ao fato de que essa foi uma profissão em que vários imigrantes se destacaram, e que eles a ensinaram a outros imigrantes, mas não porque estava no sangue deles ser padeiro.
O pão é um alimento de consumo em toda as regiões do mundo, mas isso não quer dizer que só os portugueses façam pão, ou que o façam melhor do que outros povos. Há padeiros chineses, malaios, indianos, botsuanos, alemães, franceses, gregos, espanhóis, japoneses, brasileiros, etc. Há padeiros em todas as sociedades, em todas as culturas. E, se há portugueses em todos esses lugares citados, isso não significa que eles sejam padeiros. Em outras regiões do mundo, eles podem ter se especializado em outras profissões. Logo, é equivocado achar que profissões tenham uma determinação biológica e que exista o determinismo biológico.
Toda criança ao nascer é fruto da combinação de elementos genéticos do pai e da mãe. Contudo, sua maneira de agir, pensar e sentir não está relacionada com esse código genético. Na verdade, se transportarmos para a Bolívia um bebê inglês e o criarmos ali com outros pais, ele desenvolverá os hábitos, a maneira de falar e de raciocinar típicos do lugar. Provavelmente não gostará de comer a comida que seus pais biológicos ingleses apreciam, nem pensará como um inglês, pois assumirá os hábitos e costumes da família boliviana que o criou. A carga genética vinda de seus pais não influenciará seu comportamento. Mesmo determinadas doenças, para as quais ele, porventura, tenha predisposição genética, poderão não se manifestar, impedidas possivelmente pelos hábitos alimentares e de vida adquiridos no novo país.
Isso demonstra que o determinismo biológico é uma postura equivocada e que deve ser evitada, pois a cultura pode interferir no plano biológico. Do ponto de vista biológico, em geral, os homens são mais fortes do que as mulheres, mas em várias culturas é a mulher quem realiza o trabalho braçal e não o homem. A antropologia tem mostrado que muitas atividades atribuídas aos homens em determinadas culturas são realizadas pelas mulheres em outras. Portanto, apesar de existirem diferenças biológicas entre homens e mulheres, a cultura pode interferir no plano biológico.
O riso é outro exemplo de que o determinismo biológico é uma postura equivocada.
Segundo Laraia (2009,p..69), o riso é uma propriedade do ser humano e dos primatas mais desenvolvidos. Mas o que é considerado risível varia de cultura para cultura. Ou seja, o riso é totalmente condicionado pelos padrões culturais, apesar de toda a sua fisiologia.
Os significados de cultura no cotidiano
O emprego da palavra cultura, no cotidiano, é objeto de estudo de diversas ciências sociais. O pensador francês Félix Guattari (1930-1992) reuniu os diferentes significados de cultura em três grupos, por ele designados cultura-valor, cultura-alma coletiva e cultura-mercadoria.
Cultura-valor é o sentido mais antigo e explicita-se na ideia de “cultura o espírito”. É o que permite estabelecer a diferença entre quem tem cultura e quem não tem ou determinar se o indivíduo pertence a um meio culto ou inculto, definindo um julgamento de valor sobre essa situação. Nesse grupo inclui-se o uso do termo para identificar, por exemplo, quem tem ou não cultura clássica, artística ou científica.
O segundo significado, designado cultura-alma coletiva, é sinônimo de “civilização”. Ele expressa a ideia de que todas as pessoas, grupos e povos têm cultura e identidade cultural. Nessa acepção, pode-se falar de cultura negra, cultura chinesa, cultura marginal, etc. Tal expressão presta-se assim aos mais diversos usos por aqueles que querem atribuir um sentido para a ação dos grupos aos quais pertencem, com a intenção de caracterizá-los ou identifica-los.
O terceiro sentido, o cultura-mercadoria, corresponde à “cultura de massa”. Nessa concepção, cultura compreende bens ou equipamentos- por exemplo, os centros culturais, os cinemas, as bibliotecas e as pessoas que trabalham nesses estabelecimentos- e os conteúdos teóricos e ideológicos de produtos que estão à disposição de quem quer e pode compra-los, ou seja, que estão disponíveis no mercado, como filmes, discos e livros.
As três concepções de cultura estão presentes em nosso dia a dia, marcando sempre uma diferença entre as pessoas- seja no sentido elitista (entre as que têm e as que não têm uma cultura erudita, por exemplo), seja no sentido de identificação com algum grupo específico, seja ainda em relação à possibilidade de consumir bens culturais. Todas essas concepções trazem uma carga valorativa, dividindo indivíduos, grupos e povos entre os que têm e os que não têm cultura ou acesso aos bens culturais, ou mesmo entre os que têm uma cultura considerada superior e os que têm uma cultura considerada inferior.
Cultura segundo a Antropologia
Com distintas abordagens e definições, o conceito de cultura integra o quadro teórico de todas as ciências sociais. No entanto, com frequência é vinculado à  antropologia, por ter sido amplamente discutido e utilizado por estudiosos dessa área do conhecimento desde o século XIX, quando as explicações racialistas e evolucionistas da diversidade humana eram dominantes.
Naquele contexto, uma das primeiras definições de cultura foi elaborada pelo antropólogo inglês Edward Burnett Tylor. De acordo com esse autor, cultura é o conjunto complexo de conhecimentos, crenças, arte, moral e direito, além de costumes e hábitos adquiridos pelos indivíduos em uma sociedade. Trata-se de uma definição muito ampla e, para Tylor, expressa a totalidade da vida social humana.
No livro Cultura primitiva, Tylor expôs sua análise das origens e dos mecanismos de evolução da cultura em várias sociedades. Para ele, a diversidade cultural que se observa entre os povos contemporâneos reflete os diferentes estágios evolutivos de cada sociedade, em uma escala que vária do mais primitivo, representado por povos tribais, ao mais desenvolvido, alcançado pelos europeus.
Contrapondo-se a essa visão evolucionista, segundo a qual a humanidade segue uma trajetória comum, o antropólogo alemão Franz Boas recusou qualquer generalização que não pudesse ser demonstrada por meio da pesquisa concreta em sociedades determinadas. Para ele, cada cultura é única e deve ser analisada de modo aprofundado e particular. Existem, portanto, “culturas”, e não “a cultura”, e é essa diversidade cultural que explica as diferenças entre as sociedades humanas.
O antropólogo inglês Bronislaw  Kasper Malinowski afirmava que, para fazer uma análise objetiva, era necessário examinar as culturas em seu estado atual, sem preocupação com suas origens. Concebia as culturas como sistemas funcionais e equilibrados, formados por elementos interdependentes que lhes davam características próprias, principalmente no que dizia respeito às necessidades básicas, como alimento, proteção e reprodução.
Malinowski desenvolveu a ideia ‘observação participante”. Para ele não se podia analisar uma cultura externamente ou mesmo à distância, pois só vivendo determinado tempo na sociedade a ser pesquisada se podia conhecer as relações entre a cultura e a vida social.


A separação entre cultura popular e erudita, com a contribuição de maior valor à segunda, está relacionada à divisão da sociedade em classes, ou seja, é resultado e manifestação das diferenças sociais. Há, de acordo com essa classificação, uma cultura identificada com os segmentos populares e outra, considerada superior, identificada com as elites.
A cultura erudita abrangeria expressões artísticas como a música erudita de padrão europeu, as artes plásticas-esculturas e pintura-, o teatro e a literatura de cunho universal. Esses produtos culturais, como qualquer mercadoria, podem ser comprados e, em alguns casos, até deixados de herança como bens físicos e materiais.
A chamada cultura popular corresponde à manifestação genuína de um povo e encontra expressão nos mitos e contos, danças, músicas e artesanato. Inclui também expressões urbanas recentes, como grafites, o hip-hop e os sincretismos musicais do interior ou das grandes cidades, o que demonstra haver constante criação e recriação no universo cultural de base popular. Nesse universo, quem cria é o povo, nas condições possíveis. A palavra folclore (do inglês folklore: junção de folk, “povo”, e lore, “saber”) significa “discurso do povo”, sabedoria do povo” ou “ conhecimento do povo “.
Para examinar criticamente essa diferenciação, voltemos ao termo cultura, agora segundo a análise do pensador brasileiro Alfredo Bosi. De acordo com Bosi, não há no grego uma palavra específica para designar cultura, mas há um termo que se aproxima desse conceito: paideia (“aquilo que se ensina à criança”; ”aquilo que deve ser trabalhado na criança até que ela se torne adulta”).
A palavra cultura vem do latim e designa “ o ato de cultivar a terra”, “de cuidar do que se planta”, ou seja, o trabalho de preparar o solo, semear e fazer tudo para que uma planta cresça e dê frutos.
O termo está assim vinculado ao ato de trabalhar, a determinada ação, seja a de ensinar uma criança, seja a de cuidar de uma plantação. Nesse sentido original, todos têm acesso à cultura, pois todos podem trabalhar. Para escrever um romance, é preciso trabalhar uma narrativa; para fazer uma toalha de renda, uma música, uma mesa de madeira ou uma peça de mármore, é necessário trabalhar. Para Bosi, isso é cultura. E é por essa razão que um produto cultural gerado pelo trabalho chama-se obra, que vem de opus, palavra também do latim, derivada do verbo operar (no sentido de “fazer”, de “criar algo”).
Quando uma pessoa compra um livro, um disco, um quadro ou uma escultura, vai ao teatro ou a uma exposição, adquire-se bens culturais, mas não os produz.
Esses bens proporcionam deleite e prazer, e são usados por algumas pessoas para afirmar e mostrar que ‘ possuem Cultura “, quando são apenas consumidoras de uma mercadoria como qualquer outra. Não ter acesso a esses bens não significa portanto, não ter cultura.
Alfredo Bosi chama a atenção para o fato de haver em muitos países órgãos públicos que procuram desenvolver ações para “conservar a cultura popular original’, com certo receio de que ela não resista ao avanço da indústria cultural.
Ora, os produtos culturais- como as festas, a música, a dança, o artesanato e outras tantas manifestações – são criados em determinadas condições e r atório de Ensino de Sociologia Florestan Fernandes
www.labes.fe.ufrj.br
www.brasilescola.uol.com.br/sociologia
emodelam-se continuamente. Nesse sentido, é necessário analisar a cultura como processo, como ato de trabalho que não se extingue.
A criação cultural não morre com seus autores, e basta que o povo exista para que ela sobreviva. Entenda-se aqui povo não como uma massa amorfa de oprimidos submissos, mas como um conjunto de indivíduos, com ideias próprias e capacidade criativa e produtiva, que resiste muitas vezes silenciosamente, sobretudo por meio da produção cultural, como seus cantos e festas.
Para Bosi, a cultura é algo que se faz, e não apenas um produto que se adquire. É por isso que não tem sentido comparar cultura popular com cultura erudita. Quando afirmamos que ter cultura significa ser superior e não ter cultura significa ser inferior, utilizamos a condição de posse de cultura como elemento para diferenciação social e imposição de uma superioridade que não existe. Isso é ideologia.


                                  Referências
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Matemática, Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de Educação Fundamental, 1998.
CRESPO, Antônio Arnot Estatística Fácil.17 ed. São Paulo: Saraiva,1999.
LOPES, Paulo Afonso. Entendendo a importância da estatística sem ser gênio, matemático ou bruxo. 2007.
TRIOLA, Mário F. Introdução à Estatística. LTC. 10 edição-2008.
VIGOTSKI, Lev S. Pensamento e Linguagem. 2 Edição 2000.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC ,1999;
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia: ciência do homem, filosofia da cultura. São Paulo: Contexto,2008.
DaMatta, Roberto. A Antropologia no quadro das ciências. In: Relativizando: uma introdução à Antropologia Social. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
Tomazi, Nelson Dacio. Sociologia para o ensino médio-volume único/ 3 edição.-São Paulo: Saraiva, 2013.
SCHAEFER, Richard T. Sociologia; Tradução Elaine Kanner, Maria Helena Ramos Banoni; revisão Sérgio José Schirato, Noêmia Lazzareschi; 6 ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2006.
Laboratório de Ensino de Sociologia da Universidade de São Paulo-USP
www.ensinosociologia.ffch.usp.br

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