miércoles, 20 de septiembre de 2017

Intolerância religiosa: a livre expressão do racismo brasileiro

Brasil.
País de diversas negações e contradições sobre sua própria história, sobre a formação de seu povo e sobre os mais vergonhosos problemas que descendem dessa negação e contradição. Todas as verdades por aqui são mascaradas, sobretudo aquelas que exigem trabalho apurado de autocrítica e humildade para quebrar tabus e regras perigosamente arcaicas e promover mudanças permanentes.

Reprodução
O mito da democracia e liberdade de expressão que nunca experimentamos, o mito da comunhão racial cunhado em meio a efervescência contínua do racismo estrutural, a falsa valorização da figura da “mulher brasileira” que encobre a misoginia e potencializa estereótipos dentro e fora do país, o tratamento promíscuo e irresponsável que se dá a formação de nossas crianças e adolescentes, entre outras diversas incongruências que fazem parte do nosso estado natural de coisas e não estão na pauta do dia.
“O profundo das coisas não está na pauta do dia. De nenhum dia.” Micheliny Verunschk em Nossa Tereza – Vida e Morte de uma santa suicida.
Mas, essa atitude de jogar a sujeira para baixo do tapete, ao longo da nossa história, vem se mostrando de uma ineficiência persistente e proveitosa, pois vez por outra, um assédio aqui, um estupro coletivo ali, um Rafael Braga acolá, joga na cara da sociedade a sua hipocrisia passiva e covardia pujante.
Como é o caso dos recentes vídeos propagados nas redes sociais, onde traficantes evangélicos violentam casas de culto religioso africano (ou de dissidência africana), que trouxe para os 15 minutos de debates rasos e indignações passageiras, um sofrimento que, além de histórico é seguramente uma ramificação da expressão do racismo arraigado nas estruturas e instituições alocadas desde o extremo sul ao extremo norte do país.
E não devemos nos ater ao rótulo de ‘traficantes evangélicos’ para destilar argumentos e contrapontos, sob pena de cair em outro erro histórico característico do nosso povo: o esvaziamento sumário das discussões, uma vez que, o Brasil é racista e a manifestação desse racismo não é concentrada em um só ponto, em uma só pessoa ou instituição.
Há que se considerar os preconceitos de toda ordem que se assentaram no senso comum dos brasileiros e estão vivos nas mais variadas vertentes sociais, reverberando como heranças devidamente costuradas pela ação do tempo que transcorre sem confrontá-las de forma madura.
Um desses preconceitos gira entorno da crença de que se pode afetar e/ou interferir na vida de qualquer pessoa, pela manipulação de receitas e ingredientes mágicos, em rituais caricatos de feitiçarias e/ou bruxarias associadas a figura de uma legião de forças malignas ocultas que a princípio, daria esse enorme poder para seus adoradores. Isso faz parte das escusas intenções políticas que rondaram a igreja católica na idade da “Santa” Inquisição, onde se queimavam pessoas praticantes de outras expressões do sagrado.
Sendo o Candomblé uma religião trazida pelo povo que seria colocado no lugar de selvagem, sem alma, a associação dos seus rituais com práticas diabólicas que divergiam do que pregava a hegemonia católica seria óbvia.
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Toninho Oliveira/ Prefeitura de Campinas
E isso se estende até hoje, a associação das práticas de matriz africana com o diabólico, com o destrutivo, antagônico a toda santidade pautada pela ideologia colonizadora europeia. Esses estereótipos e preconceitos, aliados a estrutura racista que se impunha, perduram até hoje e são argumentos constantes na explicação dos ataques, devidamente potencializado pelos meios de comunicação e seus desrespeitos para com as religiões de origem africanas.
Cabe lembrar aqui que Racismo não é preconceito, embora este último seja uma das práticas atreladas a manifestação do racismo

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