Pergunta 1
(ENADE, 2011, adaptado) Mesmo entre gente humilde, porém, funcionava o sistema de obrigações recíprocas. O nonagentário Nhô Samuel lembrava com saudade o dia em que o pai, sitiante perto de Tatuí, lhe disse que era tempo de irem buscar a novilha dada pelo padrinho... Diz que era costume, se o pai morria, o padrinho ajudar a comadre até ‘arranjar a vida’. Hoje, diz Nhô Roque, a gente paga o batismo e, quando o afilhado cresce, nem vem dar louvado (pedir a benção).CANDIDO, A. Os Parceiros do Rio Bonito. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1982. p. 247.Considerando que o texto lido pode ser articulado ao trabalho do antropólogo francês Marcel Mauss, para quem as relações de troca são fundamentais em todas as sociedades, analise as afirmações que seguem.I. A prática social da troca de presentes origina-se com a consolidação do modo capitalista de produção.II. O que fundamenta as relações de troca de presentes é o ganho econômico obtido a partir dos bens trocados.III. A troca de presentes é baseada em relações de reciprocidade.IV. O ato de presentear instaura e reforça as alianças e os vínculos sociais.É correto apenas o que se afirma em:Resposta Selecionada: c.III e IV;Respostas: a.b.c.d.e.Feedback da resposta: Resposta correta: C.Comentário: a troca funda o social, pois estabelece um sistema de reciprocidade em que continuamente se articulam o dom de dar, a obrigação de receber e a obrigação de retribuir.Pergunta 2
(UEL 2008) Leia o texto a seguir.[…] Em toda parte renasce e se revigora o mau-olhado, a política do julgamento adverso à primeira vista, por meio da qual os países ricos se defendem contra aqueles que procedem de países que entraram no índex político da seleção natural: virtude humana é o dinheiro, uma virtude detergente que branqueia quem vem do mundo subdesenvolvido. Na verdade, o migrante entra no país de destino pela porta de saída, modo de permitir-lhe permanecer como se estivesse todo o tempo da permanência a caminho da saída, algo que concretamente ocorre com os muitos que na Alemanha ou nos Estados Unidos aguardam na prisão a deportação. […] Estamos em face de uma multiplicação de recursos ideológicos para barrar a entrada de migrantes nos países de destino. Até 11 de setembro [de 2001] funcionava o estereótipo de traficante (uma cara de índio latino-americano era perfeita para barrar passageiros no desembarque) e o estereótipo de desempregado (a condição de jovem tem sido perfeita para discriminar) ou o estereótipo de prostituta (jovem e mulher vinda do Terceiro Mundo), e terrorista (cara de árabe ou barbudo ou mesmo bigode à moda do Oriente-médio). Agora, estamos vivendo o momento mais interessante de reelaboração dos estereótipos, com o predomínio do temor ao terrorista sobre os estereótipos usados até aqui. Registros e denúncias dos últimos meses indicam que o novo estereótipo abrange também pessoas com aparência de ricas […]. […] De fato, os aeroportos internacionais dos países ricos tornaram-se o teatro do medo e da intimidação. […] O critério da discriminação visual do migrante nem mesmo pode detectar sua principal motivação para migrar, que é hoje o trabalho. […] Os agentes do mau olhado portuário e aeroportuário não podem ver esse conteúdo substancialmente específico da migração por um motivo simples: os migrantes são pessoas que em boa parte já foram socializadas no mesmo registro sociológico daqueles que devem e esperam barrá-los. São expressões da sociedade moderna que se difundem através da globalização. As medidas de segurança nacional voltadas para a interdição do acesso de migrantes aos países ricos são o corolário da globalização em seus efeitos não só econômicos, mas também culturais e sociais.MARTINS, J. de S. Segurança nacional e insegurança trabalhista: os migrantes na encruzilhada. In: Caderno de Direito – FESO, Teresópolis, ano V, n. 7, 2o semestre 2004, p. 113-127.De acordo com o texto, é correto afirmar que, depois do 11 de setembro de 2001:Resposta Selecionada: a.os estereótipos e as formas de discriminação foram ampliados no processo de migração de pessoas dos países pobres para os países ricos;Respostas: a.b.c.d.e.Feedback da resposta: Resposta correta: A.Comentário: após o 11 de setembro de 2001, houve um recrudescimento do ódio contra imigrantes, em especial aqueles oriundos de países pobres e de países islâmicos. O mundo tornou-se, em geral, menos tolerante. Tal processo ampliou-se com a crise econômica que assombrou os países europeus na última década.Pergunta 3
(UEM 2011, adaptada) Na atualidade, o corpo tem sido tratado como elemento de identidade e pertencimento a uma sociedade de consumo que impõe padrões de beleza. Sobre o assunto, assinale o que for incorreto.Resposta Selecionada: e.A padronização dos corpos, que impõe sacrifícios para a obtenção da perfeição corporal, como exercícios físicos, dieta, incisões cirúrgicas, entre outras estratégias, restringe-se somente ao universo feminino.Respostas: a.b.c.d.e.Feedback da resposta: Resposta correta: E.Comentário: a supervalorização do corpo malhado e magro na sociedade contemporânea ajuda a pensar sobre o quanto as regras sociais produzem nosso físico e nossos padrões estéticos. Esses padrões são cobrados de todas as pessoas, independentemente de idade, raça/etnia, gênero, sexualidade ou classe social.Pergunta 4
(UFU 2012, adaptada) A estética nas diferentes sociedades vem geralmente acompanhada de marcas corporais que individualizam seus sujeitos e sua coletividade. Discos labiais, piercings, tatuagens, mutilações, pinturas, vestimentas, penteados e cortes de cabelo são algumas marcas reconhecíveis de um inventário possível das técnicas corporais em toda sua riqueza e diversidade. Embora universais, as formas das quais se valem os grupos e indivíduos para se marcarem corporalmente são vistas, às vezes, como estranhas a indivíduos que pertencem a outros grupos.Essa atitude de estranhamento com relação ao diferente é considerada conceitualmente como:Resposta Selecionada: a.etnocentrismo: só reconhece valor nos seus próprios elementos culturais;Respostas: a.b.c.d.e.Feedback da resposta: Resposta correta: A.Comentário: desde o início do século XX, com pensadores como Franz Boas e Bronislaw Malinowski, as diferenças entre culturas passaram a ser interpretadas em estudos antropológicos, com base na ideia de relativismo cultural. Esse conceito rompia com a tendência etnocêntrica das pesquisas culturais de cunho evolucionista. Desde então, o etnocentrismo é conhecido como uma tendência humana de não considerar válido ou significante qualquer traço cultural que seja diferente do seu. A postura de estranhamento em relação às diferenças culturais destacadas no texto reflete exatamente isto.Pergunta 5
Dar – receber – retribuir. Para Mauss, este conjunto de prestações e contraprestações é que funda o social. Sobre a dádiva, é correto afirmar que:Resposta Selecionada: d.a dádiva é fundamento para toda a sociabilidade e comunicação humanas;Respostas: a.b.c.d.e.Feedback da resposta: Resposta correta: D.Comentário: a tese central de Mauss é a de que a dádiva é fundamento para toda a sociabilidade e comunicação humanas. Também argumenta que ela está presente nas mais diversas sociedades, capitalistas ou não capitalistas. Para o pesquisador, a aliança, na vida social, é dependente da dádiva.Pergunta 6
O texto a seguir relata o encontro do padre Nóbrega com um pajé indígena.“Trabalhei por me encontrar com um feiticeiro, o maior desta terra, o qual todos chamam para curar as suas doenças. Perguntei-lhe em nome de que poder o fazia, se tinha comunicação com Deus, que fez o céu e a terra e reinava nos céus, ou com o demônio, que estava nos infernos? Respondeu-me com pouca vergonha, que ele era deus, e que havia nascido deus, e me mostrou um deles a quem dizia haver curado, e que o Deus dos céus era seu amigo e lhe aparecia em nuvens, em trovões e em relâmpagos, e em outras muitas coisas”.In: Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil. Editadas pelo padre Serafim Leite. São Paulo: Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1954, v. I. p. 144.Sobre o papel dos pajés entre os Tupinambás da costa do Brasil, quando da chegada dos primeiros missionários jesuítas no século XVI, pode-se afirmar que:Resposta Selecionada: e.os pajés, nas sociedades indígenas, eram percebidos como deuses, sendo responsáveis pela cura de diversas enfermidades cujas causas eram tidas como espirituais.Respostas: a.b.c.d.e.Feedback da resposta: Resposta correta: E.Comentário: em relação às sociedades indígenas do Brasil, o mundo sobrenatural era muito real para os indígenas. Sentiam-se rodeados de espíritos, benéficos ou maléficos, alguns protetores. A vida tribal estava envolvida numa trama de lendas, mitos, cerimônias e crenças espirituais. Toda tribo tinha pajé para interpretar o mundo sobrenatural e curar por meio de seus poderes especiais.Pergunta 7
Observe a tirinha a seguir e assinale a alternativa que não corresponde a uma análise antropológica do carnaval no Brasil.Resposta Selecionada: b.O carnaval é uma festa sem fins políticos ou críticos, que serve apenas para a indústria do entretenimento lucrar à custa do povo.Respostas: a.b.c.d.e.Feedback da resposta: Resposta correta: B.Comentário: o Carnaval é uma festa popular em diversos lugares do mundo e adquire contornos particulares no Brasil. Esta festa é percebida nas Ciências Sociais como um “ritual de inversão”. Nessa análise, além de uma festa, é um ritual que envolve a contestação das normas sociais estabelecidas e do status quo. Um argumento que ilustra isso é o uso constante de fantasias com máscaras de políticos do cenário nacional como forma de crítica à sua atuação enquanto gestores públicos.Pergunta 8
Segundo Victor Turner, dramas sociais são “dramas do viver”. O autor desenvolve a noção de drama social quando pesquisa as relações sociais de rompimento e continuidade nas aldeias Ndembu (Zâmbia), assim como as lógicas de conflito e as resoluções de conflitos inerentes à estrutura daquela sociedade. Acerca dos dramas sociais, é correto afirmar que:Resposta Selecionada: d.um drama social se manifesta primeiramente como a quebra de uma norma, a infração de uma regra de moralidade, lei, costume ou etiqueta na arena pública;Respostas: a.b.c.d.e.Feedback da resposta: Resposta correta: D.Comentário: as comunidades em que ocorrem os dramas sociais precisam ter ou terem tido alguma coisa em comum em suas trajetórias ou histórias. Um drama social se manifesta primeiramente como a quebra de uma norma, a infração de uma regra de moralidade, lei, costume ou etiqueta na arena pública. O drama social está enraizado numa crise de modelos ligados à estrutura social, pois o drama social envolve a noção de pertencimento a um grupo e o conhecimento de suas regras estruturais.Pergunta 9
Sobre a noção de fato social total em Marcel Mauss, é incorreto afirmar que:Resposta Selecionada: c.um dos únicos aspectos da realidade que não se constitui em fato social total é a dádiva, por ter relação exclusivamente com a interação entre indivíduos;Respostas: a.b.c.d.e.Feedback da resposta: Resposta correta: C.Comentário: um dos fatos sociais totais para Mauss é a dádiva. Para o autor, ela é um fator fundamental para pensar a aliança entre pessoas e grupos e, por consequência, a formação dos laços sociais.Pergunta 10
“Durante a convivência com distintos grupos culturais a fim de realizar o trabalho de campo, começam a constatar que nem todas as culturas se articulam em torno da família tal e qual se entende no mundo ocidental, mas que há sociedades em que não existe o conceito de família ou nas quais se entende por família algo muito diferente da família nuclear. Assim, conhecemos culturas onde existe a poligamia, o matrimônio de grupo ou a promiscuidade sexual, onde não se reconhece a relação pai-e-filho ou onde as relações sexuais e a reprodução não são indissociáveis. A antropologia documentou ainda sociedades onde o matrimônio é reconhecido entre pessoas do mesmo sexo, como o matrimônio entre homens e mulheres homossexuais dos grupos africanos azande e nuer.Não se pode então argumentar que a família baseada no núcleo mãe-pai-filhos seja ‘natural’, já que esse não é um fenômeno universal. Se estivesse inscrita na natureza, todos os grupos humanos organizariam sua reprodução biológica segundo essa estrutura. E mais, mesmo no mundo ocidental, a família baseada na monogamia, no afeto ou na convivência não é sequer a forma de organização predominante em muitos contextos. Para esse modelo de família nuclear heterossexual ser legitimado como ideal cultural, ele é apresentado ao nosso redor como uma realidade natural que não pode ser questionada. Quer dizer, os fenômenos sociais são explicados como se fossem fenômenos naturais”.GAlÁN, José Ignácio Pichardo. Criando e recriando a família. Revista Humboldt, Ano 50, 2008, Número 97. Disponível em: http://www.intercef.com.br/artigos/criando-e-recriando-a-familia.php).A questão do matrimônio como constituidor de alianças entre grupos é um tema caro à antropologia e é estudado com base em noções como endogamia, exogamia, tabu do incesto etc. A partir deste debate, relacione os termos com as assertivas a seguir.I – Tabu do incesto.II – Exogamia.III – Endogamia.( ) É o sistema em que os casamentos ou alianças matrimoniais se dão entre indivíduos que são do mesmo grupo familiar, que compartilham da mesma ascendência.( ) Refere-se ao casamento de um indivíduo com um membro de outro grupo, estranho ou diferente daquele do qual faz parte.( ) Funciona como uma forma de limitar as possibilidades das trocas matrimoniais e é universal.Agora, assinale a alternativa que contém a sequência correta.Resposta Selecionada: c.II, III, I.Respostas: a.b.c.d.e.Feedback da resposta: Resposta correta: C.Comentário: exogamia refere-se a casamentos para fora do grupo de origem. Endogamia refere-se a casamentos para dentro do grupo de origem. O tabu do incesto é universal e é uma forma das sociedades garantirem as alianças entre diferentes grupos sociais.
jueves, 19 de mayo de 2016
Teoria Antropológica-Questionário I
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Resposta da número da pergunta10 é a letra (e)
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